quinta-feira, 18 de junho de 2009

RELATÓRIO DA OFICINA Nº 7

LEITURA E PROCESSOS DE ESCRITAComecei a oficina nº7 com uma mensagem de motivação. Inicialmente, fiz algumas considerações referentes ao empenho e compromisso de cada professor para garantir a qualidade do programa como atualização dos registros e organização do portifólio. Reforcei sobre a necessidade de fazer o estudo da TP, resolver as atividades propostas, não deixar que se acumulem para não haver atropelos no final.Trabalho com 10 professores cursistas. Todos até o momento demonstraram o comprometimento e envolvimento no estudo e na aplicação dos Avançando na Prática. A maioria está com dificuldade de organizar o portifólio, pois todos os professores estão com carga cheia,mas aos poucos estão colocando em dia. Após este momento, iniciamos nossas atividades, coloquei um fundo musical infantil e pedi para os cursistas que voltassem lá na infância para lembrar sobre sua alfabetização, bem como o contato com o letramento tanto na escola como no cotidiano. Todos receberam uma folha em branco para retratar suas lembranças em desenhos. Esta atividade foi muito empolgante, estipulei um tempo. Logo em seguida montamos um painel onde os professores apresentaram suas lembranças e ao mesmo tempo selecionávamos como ocorreu o letramento, se foi na escola ou fora dela, no cotidiano. Logo após lemos o texto “foram muitos, os professores “ de Bartolomeu Campos Queiroz. O texto é maravilhoso, conforme líamos, as lembranças da nossa infância vinha a tona. Distribuí alguns questionamentos para que os professores debatessem em grupo e depois socializassem:
1. Que situações de leitura e escrita Bartolomeu vivia com seus familiares? Com que finalidades eles usavam a escrita? 2. Na sua opinião, como Bartolomeu aprendeu a ler? 3. Como o avô de Bartolomeu conseguiu ensiná-lo a ler sem percorrer o caminho usual da escola, ou seja, ensinar, no período inicial do trabalho com leitura e escrita, apenas a base alfabética? 4. Bartolomeu teve o privilégio de chegar à escola com uma história de convivência familiar que favoreceu sua aprendizagem. Sabemos que isso não é o que ocorre com todas as crianças que chegam à escola. Como podemos contribuir para ampliar experiências daquelas crianças que não viveram em lares com grau de letramento mais elevado e não tiveram a oportunidade de construir variados significados para a escrita e para a leitura? 5. As pessoas que interagiam com Bartolomeu talvez nem tivessem consciência de que o estavam impulsionando para os estudos. Como nós podemos, se compreendermos os princípios das ações dos personagens do texto, recriá-las para ajudar crianças e jovens a despertarem o prazer de aprender a ler e a escrever?

Fechamos essa atividade com as leituras dos seguintes textos:

São muitos os lugares da leitura e da escritaOs familiares de Bartolomeu usavam a leitura e a escrita para muitas finalidades incorporadas a seu modo de vida: copiar, registrar, ler instruções e modos de fazer, se entreter, passar o tempo, conhecer histórias de pessoas importantes, obter informações, refletir sobre a vida ou registrar emoções e pensamentos. Ou seja, eram pessoas que tinham um grau suficiente de letramento para utilizar a escrita para diversas finalidades. Dessa maneira, a escrita fazia parte do cotidiano da família. Sua utilidade como elemento de comunicação valioso em diferentes situações sociais ficava demonstrada no uso contínuo que a família fazia dela, antes e durante a escolarização do autor. Nas e pelas interações com seus familiares, Bartolomeu aprendeu, como ele próprio diz, “o serviço das palavras”, isto é, aprendeu por que e para que lemos e escrevemos, e que a leitura e a escrita se organizam de diferentes formas com características próprias e diversas. As pessoas que conviviam com ele não se preocuparam em lhe ensinar primeiro as letras, depois as sílabas. O que fizeram foi ensinar a leitura e a escrita em seu uso no dia-a-dia, proporcionando ocasiões para que ele compreendesse as diferentes funções sociais que elas têm, além de partilhar com ele o conhecimento de que a escrita se organiza em diferentes formas de dizer: poemas, biografias, receitas, notícias e reflexões. Bartolomeu, assim, conheceu primeiro “o todo sem suspeitar das partes” e, uma vez familiarizado com esse todo, foi desvendando como a escrita é sempre um modo de dizer (ou seja, um discurso) e como ela se organiza enquanto sistema de normas e regras, além de aprender a decifrá-la. Muitas crianças não têm as mesmas oportunidades que Bartolomeu teve de conhecer variados usos e funções da escrita e de valorizar esse uso, uma vez que suas famílias e os grupos sociais a que pertencem não se utilizam ou pouco se utilizam deles. Nas famílias menos letradas, a comunicação ocorre mais pela transmissão oral. Assim, uma criança pode ouvir informações valiosas e histórias interessantes contadas pelos mais velhos, que as guardam na memória, enriquecer seu universo cultural dessa maneira e, mesmo assim não ter suficientes conhecimentos práticos de leitura e escrita adquiridos no espaço doméstico. Essas crianças podem não ter facilidade para se apropriar da escrita, ou mostrar um aprendizado mais lento, não porque têm alguma dificuldade de aprendizagem ou uma deficiência, mas simplesmente porque não tiveram experiências suficientes com a escrita (anteriores e paralelas à escola) para se apropriarem dela com facilidade. As pessoas que interagiam com Bartolomeu talvez não tivessem consciência de que o estavam impulsionando para os estudos, mas com certeza as experiências vividas contribuíram para que ele não só aprendesse a ler, mas que também se apaixonasse pelas letras.É por isso que nas entrelinhas desse belo texto podemos, certamente, encontrar várias pistas para nosso trabalho como educadores. Nossa tarefa é ensinar nossos alunos a ler e a escrever e, para tanto, temos instrumentos que podemos e devemos utilizar de forma consciente. Cabe a nós, educadores, planejar e organizar projetos e seqüências didáticas que possibilitem que nossos alunos (principalmente aqueles que chegam à escola com poucos conhecimentos sobre leitura e escrita) possam se familiarizar com seus inúmeros usos e funções sociais. Precisamos ensinar a eles, de forma intencional, o que Bartolomeu aprendeu com seus familiares: “o serviço da palavras”. E assim como Dona Maria Campos, a primeira professora de Bartolomeu, precisamos ensiná-los que “são muitos os lugares da leitura e da escrita”. O incentivo a práticas de letramento diversificadas na escola não pode, porém, eliminar práticas criativas e estimulantes para facilitar a apropriação da base alfabética. Ao ler uma história, elaborar uma receita ou fazer uma lista com seus alunos, o professor deve associar a essas atividades outras que proporcionem o conhecimento do uso correto das letras na grafia das palavras, que valorizem a importância da pontuação e da organização do que se escreve. Associando essas atividades a práticas significativas de leitura e escrita, o ensino da base alfabética e, posteriormente, da ortografia e da gramática, adquirem significado e têm sua apropriação facilitada. Concluindo, não podemos nos esquecer de um dos mais belos ensinamentos do texto: a “certeza do afeto como a primordial metodologia".
Lemos e refletimos a entrevista da Magda Soares:
"LETRAR É MAIS QUE ALFABETIZAR"
Entrevista com Magda Becker Soares.
Nos dias de hoje, em que as sociedades do mundo inteiro estão cada vez mais centradas na escrita, ser alfabetizado, isto é, saber ler eescrever, tem se revelado condição insuficiente para responder adequadamente às demandas contemporâneas. É preciso ir além da simples aquisição do código escrito, é preciso fazer uso da leitura e da escrita no cotidiano, apropriar-se da função social dessas duas práticas; é preciso letrar-se. O conceito de letramento, embora ainda não registrado nos dicionários brasileiros, tem seu aflorar devido à insuficiência reconhecida do conceito de alfabetização. E, ainda que não mencionado, já está presente na escola, traduzido em ações pedagógicas de reorganização do ensino e reformulação dos modos de ensinar, como constata a professora Magda Becker Soares, que, há anos, vem se debruçando sobre esse conceito e sua prática.
"A cada momento, multiplicam-se as demandas por práticas de leitura e de escrita, não só na chamada cultura do papel, mas também na nova cultura da tela, com os meios eletrônicos", diz Magda, professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Se uma criança sabe ler, mas não é capaz de ler um livro, uma revista, um jornal, se sabe escrever palavras e frases, mas não é capaz de escrever uma carta, é alfabetizada, mas não é letrada", explica. Para ela, em sociedades grafocêntricas como a nossa, tanto crianças de camadas favorecidas quanto crianças das camadas populares convivem com a escrita e com práticas de leitura e escrita cotidianamente, ou seja, vivem em ambientes de letramento.
"A diferença é que crianças das camadas favorecidas têm um convívio inegavelmente mais freqüente e mais intenso com material escrito e com práticas de leitura e de escrita", diz. "É prioritário propiciar igualmente a todos o acesso ao letramento, um processo de toda a vida".
(ELIANE BARDANACHVILI)
- O que levou os pesquisadores ao conceito de "letramento", em lugar do de alfabetização?
- A palavra letramento e, portanto, o conceito que ela nomeia entraram recentemente no nosso vocabulário. Basta dizer que, embora apareça com freqüência na bibliografia acadêmica, a palavra não está ainda nos dicionários. Há, mesmo, vários livros que trazem essa palavra no título. Mas ela não foi ainda incluída, por exemplo, no recente Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa , de 1998, nem na nova edição do Aurélio, o Aurélio Século XXI , publicado em 1999. É preciso reconhecer também que a palavra não foi incorporada pela mídia ou mesmo pelas escolas e professores. É ainda uma palavra quase só dos "pesquisadores", como bem diz a pergunta. O mesmo não acontece com o conceito que a palavra nomeia, porque ele surge como conseqüência do reconhecimento de que o conceito de alfabetização tornou-se insatisfatório.
- Por quê?
- A preocupação com um analfabetismo funcional [terminologia que a Unesco recomendara nos anos 70, e que o Brasil passou usar somente a partir de 1990, segundo a qual a pessoa apenas sabe ler e escrever, sem saber fazer uso da leitura e da escrita], ou com o iletrismo, que seria o contrário de letramento, é um fenômeno contemporâneo, presente até no Primeiro Mundo.
- E como isso ocorre?
- É que as sociedades, no mundo inteiro, tornaram-se cada vez mais centradas na escrita. A cada momento, multiplicam-se as demandas por práticas de leitura e de escrita, não só na chamada cultura do papel, mas também na nova cultura da tela, com os meios eletrônicos, que, ao contrário do que se costuma pensar, utilizam-se fundamentalmente da escrita, são novos suportes da escrita. Assim, nas sociedades letradas, ser alfabetizado é insuficiente para vivenciar plenamente a cultura escrita e responder às demandas de hoje.
- Qual tem sido a reação a esse fenômeno lá fora?
- Nos Estados Unidos e na Inglaterra, há grande preocupação com o que consideram um baixo nível de literacy da população, e, periodicamente, realizam-se testes nacionais para avaliar as habilidades de leitura e de escrita da população adulta e orientar políticas de superação do problema. Outro exemplo é a França. Os franceses diferenciam illettrisme muito claramente illettrisme de analphabétisme . Este último é considerado problema já vencido, com exceção para imigrantes analfabetos em língua francesa. Já illettrisme surge como problema recente da população francesa. Basta dizer que a palavra illettrisme só entrou no dicionário, na França, nos anos 80. Em Portugal é recente a preocupação com a questão do letramento, que lá ganhou a denominação de literacia, numa tradução mais ao pé da letra do inglês literacy .
- O que explica o aparecimento do conceito de letramento entre nós?
- Não se trata propriamente do aparecimento de um novo conceito, mas do reconhecimento de um fenômeno que, por não ter, até então, significado social, permanecia submerso. Desde os tempos do Brasil Colônia, e até muito recentemente, o problema que enfrentávamos em relação à cultura escrita era o analfabetismo, o grande número de pessoas que não sabiam ler e escrever. Assim, a palavra de ordem era alfabetizar. Esse problema foi, nas últimas décadas, relativamente superado, vencido de forma pelo menos razoável. Mas a preocupação com o letramento passou a ter grande presença na escola, ainda que sem o reconhecimento e o uso da palavra, traduzido em ações pedagógicas de reorganização do ensino e reformulação dos modos de ensinar.
- Como o conceito de letramento, mesmo sem que se utilize este termo, vem sendo levado à prática?
- No início dos anos 90, começaram a surgir os ciclos básicos de alfabetização, em vários estados; mais recentemente, a própria lei [Lei de Diretrizes e Bases, de 1996] criou os ciclos na organização do ensino. Isso significa que, pelo menos no que se refere ao ciclo inicial, o sistema de ensino e as escolas passam a reconhecer que alfabetização, entendida apenas como a aprendizagem da mecânica do ler e do escrever e que se pretendia que fosse feito em um ano de escolaridade, nas chamadas classes de alfabetização, é insuficiente. Além de aprender a ler e a escrever, a criança deve ser levada ao domínio das práticas sociais de leitura e de escrita. Também os procedimentos didáticos de alfabetização acompanham essa nova concepção: os antigos métodos e as antigas cartilhas, baseados no ensino de uma mecânica transposição da forma sonora da fala à forma gráfica da escrita, são substituídos por procedimentos que levam as crianças a conviver, experimentar e dominar as práticas de leitura e de escrita que circulam na nossa sociedade tão centrada na escrita.
- Como se poderia, então, definir letramento?
- Letramento é, de certa forma, o contrário de analfabetismo. Aliás, houve um momento em que as palavras letramento e alfabetismo se alternavam, para nomear o mesmo conceito. Ainda hoje há quem prefira a palavra alfabetismo à palavra letramento - eu mesma acho alfabetismo uma palavra mais vernácula que letramento, que é uma tentativa de tradução da palavra inglesa literacy , mas curvo-me ao poder das tendências lingüísticas, que estão dando preferência a letramento. Analfabetismo é definido como o estado de quem não sabe ler e escrever; seu contrário, alfabetismo ou letramento, é o estado de quem sabe ler e escrever. Ou seja: letramento é o estado em que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive: sabe ler e lê jornais, revistas, livros; sabe ler e interpretar tabelas, quadros, formulários, sua carteira de trabalho, suas contas de água, luz, telefone; sabe escrever e escreve cartas, bilhetes, telegramas sem dificuldade, sabe preencher um formulário, sabe redigir um ofício, um requerimento. São exemplos das práticas mais comuns e cotidianas de leitura e escrita; muitas outras poderiam ser citadas.
- Ler e escrever puramente tem algum valor, afinal?
- Alfabetização e letramento se somam. Ou melhor, a alfabetização é um componente do letramento. Considero que é um risco o que se vinha fazendo, ou se vem fazendo, repetindo-se que alfabetização não é apenas ensinar a ler e a escrever, desmerecendo assim, de certa forma, a importância de ensinar a ler e a escrever. É verdade que esta é uma maneira de reconhecer que não basta saber ler e escrever, mas, ao mesmo tempo, pode levar também a perder-se a especificidade do processo de aprender a ler e a escrever, entendido como aquisição do sistema de codificação de fonemas e decodificação de grafemas, apropriação do sistema alfabético e ortográfico da língua, aquisição que é necessária, mais que isso, é imprescindível para a entrada no mundo da escrita. Um processo complexo, difícil de ensinar e difícil de aprender, por isso é importante que seja considerado em sua especificidade. Mas isso não quer dizer que os dois processos, alfabetização e letramento, sejam processos distintos; na verdade, não se distinguem, deve-se alfabetizar letrando .
- De que forma?
- Se alfabetizar significa orientar a criança para o domínio da tecnologia da escrita, letrar significa levá-la ao exercício das práticas sociais de leitura e de escrita. Uma criança alfabetizada é uma criança que sabe ler e escrever; uma criança letrada (tomando este adjetivo no campo semântico de letramento e de letrar, e não com o sentido que tem tradicionalmente na língua, este dicionarizado) é uma criança que tem o hábito, as habilidades e até mesmo o prazer de leitura e de escrita de diferentes gêneros de textos, em diferentes suportes ou portadores, em diferentes contextos e circunstâncias. Se a criança não sabe ler, mas pede que leiam histórias para ela, ou finge estar lendo um livro, se não sabe escrever, mas faz rabiscos dizendo que aquilo é uma carta que escreveu para alguém, é letrada, embora analfabeta, porque conhece e tenta exercer, no limite de suas possibilidades, práticas de leitura e de escrita. Alfabetizar letrando significa orientar a criança para que aprenda a ler e a escrever levando-a a conviver com práticas reais de leitura e de escrita: substituindo as tradicionais e artificiais cartilhas por livros, por revistas, por jornais, enfim, pelo material de leitura que circula na escola e na sociedade, e criando situações que tornem necessárias e significativas práticas de produção de textos.
- O processo de letramento ocorre, então, mesmo entre crianças bem pequenas...
- Pode-se dizer que o processo começa bem antes de seu processo de alfabetização: a criança começa a "letrar-se" a partir do momento em que nasce numa sociedade letrada. Rodeada de material escrito e de pessoas que usam a leitura e a escrita - e isto tanto vale para a criança das camadas favorecidas como para a das camadas populares, pois a escrita está presente no contexto de ambas -, as crianças, desde cedo, vão conhecendo e reconhecendo práticas de leitura e de escrita. Nesse processo, vão também conhecendo e reconhecendo o sistema de escrita, diferenciando-o de outros sistemas gráficos (de sistemas icônicos, por exemplo), descobrindo o sistema alfabético, o sistema ortográfico. Quando chega à escola, cabe à educação formal orientar metodicamente esses processos, e, nesse sentido, a Educação Infantil é apenas o momento inicial dessa orientação.
- O processo de letramento ocorre durante toda a vida escolar?
- A alfabetização, no sentido que atribuí a essa palavra, é que se concentra nos primeiros anos de escolaridade. Concentra-se aí, mas não ocorre só aí: por toda a vida escolar os alunos estão avançando em seu domínio do sistema ortográfico. Aliás, um adulto escolarizado, quando vai ao dicionário, resolver dúvida sobre a escrita de uma palavra está retomando seu processo de alfabetização. Mas esses procedimentos de alfabetização tardia são esporádicos e eventuais, ao contrário do letramento, que é um processo que se estende por todos os anos de escolaridade e, mais que isso, por toda a vida. Eu diria mesmo que o processo de escolarização é, fundamentalmente, um processo de letramento.
- Em qualquer disciplina?
- Em todas as áreas de conhecimento, em todas as disciplinas, os alunos aprendem através de práticas de leitura e de escrita: em História, em Geografia, em Ciências, mesmo na Matemática, enfim, em todas as disciplinas, os alunos aprendem lendo e escrevendo. É um engano pensar que o processo de letramento é um problema apenas do professor de Português: letrar é função e obrigação de todos os professores. Mesmo porque em cada área de conhecimento a escrita tem peculiaridades, que os professores que nela atuam é que conhecem e dominam. A quantidade de informações, conceitos, princípios, em cada área de conhecimento, no mundo atual, e a velocidade com que essas informações, conceitos, princípios são ampliados, reformulados, substituídos, faz com que o estudo e a aprendizagem devam ser, fundamentalmente, a identificação de ferramentas de busca de informação e de habilidades de usá-las, através de leitura, interpretação, relacionamento de conhecimentos. E isso é letramento, atribuição, portanto, de todos os professores, de toda a escola.
- Mas seria maior a responsabilidade do professor de Português?
- É claro que o professor de Português tem uma responsabilidade bem mais específica com relação ao letramento: enquanto este é um "instrumento" de aprendizagem para os professores das outras áreas, para o professor de Português ele é o próprio objeto de aprendizagem, o conteúdo mesmo de seu ensino.
- Muitos pais reclamam do fato de, hoje, os grandes textos de literatura, nos livros didáticos, darem lugar a letras de música, rótulos de produtos, bulas de remédio. O que essa ênfase nos textos do dia-a-dia tem de positivo e o que teria de negativo?
- É verdade que o conceito de letramento, bem como a nova concepção de alfabetização que decorre dele e também das teorias do construtivismo que chegaram ao campo da educação e do ensino nos anos 80, trouxeram um certo exagero na utilização de diferentes gêneros e diferentes portadores de texto na sala de aula. É realmente lamentável que os textos literários, até pouco tempo atrás exclusivos nas aulas de Português, tenham perdido espaço. É preciso não esquecer que, exatamente porque a literatura tem, lamentavelmente, no contexto brasileiro, pouca presença na vida cotidiana dos alunos, cabe à escola dar a eles a oportunidade de conhecê-la e dela usufruir. Por outro lado, tem talvez faltado critério na seleção dos gêneros. Por exemplo: parece-me equivocado o trabalho com letras de música, que perdem grande parte de seu significado e valor se desvinculadas da melodia: é difícil apreciar plenamente uma canção de Chico Buarque ou de Caetano Veloso lendo a letra da canção como se fosse um poema, desligada ela da música que é quem lhe dá o verdadeiro sentido e a plena expressividade. Parece óbvio que devem ser priorizados, para as atividades de leitura, os gêneros que mais freqüentemente ou mais necessariamente são lidos, nas práticas sociais, e, para as atividades de produção de texto, os gêneros mais freqüentes ou mais necessários nas práticas sociais de escrita. Estes não coincidem inteiramente com aqueles, já que há gêneros que as pessoas lêem, mas nunca ou raramente escrevem, e há gêneros que as pessoas não só lêem, mas também escrevem. Por exemplo: rótulos de produtos são textos que devemos aprender a ler, mas certamente não precisaremos aprender a escrever. Assim, a adoção de critérios bem fundamentados para selecionar quais gêneros devem ser trabalhados em sala de aula, para a leitura e para a produção de textos, afastará os aspectos negativos que uma invasão excessiva e indiscriminada de gêneros e portadores sem dúvida tem.
- A condução do processo de letramento difere, no caso de se lidar com uma criança de classe mais favorecida ou com uma de classe popular?
- Em sociedades grafocêntricas como a nossa, tanto crianças de camadas favorecidas quanto crianças das camadas populares convivem com a escrita e com práticas de leitura e escrita cotidianamente, ou seja, umas e outras vivem em ambientes de letramento. A diferença é que crianças das camadas favorecidas têm um convívio inegavelmente mais freqüente e mais intenso com material escrito e com práticas de leitura e de escrita do que as crianças das camadas populares, e, o que é mais importante, essas crianças, porque inseridas na cultura dominante, convivem com o material escrito e as práticas que a escola valoriza, usa e quer ver utilizados. Dois aspectos precisam, então, ser considerados: de um lado, a escola deve aprender a valorizar também o material escrito e as práticas de leitura e de escrita com que as crianças das camadas populares convivem; de outro lado, a escola deve dar oportunidade a essas crianças de ter acesso ao material escrito e às práticas da cultura dominante. Da mesma forma, a escola que serve às camadas dominantes deve dar oportunidade às crianças dessas camadas de conhecer e usufruir da cultura popular, tendo acesso ao material escrito e às práticas dessa cultura.
- Como deve ser a preparação do professor para que ele "letre"? Em que esse preparo difere daquele que o professor recebe hoje?
- Entendendo a função do professor, de qualquer nível de escolaridade, da Educação Infantil à educação pós-graduada, como uma função de letramento dos alunos em sua área específica, o professor precisa, em primeiro lugar, ser ele mesmo letrado na sua área de conhecimento: precisa dominar a produção escrita de sua área, as ferramentas de busca de informação em sua área, e ser um bom leitor e um bom produtor de textos na sua área. Isso se refere mais particularmente à formação que o professor deve ter no conteúdo da área de conhecimento que elegeu. Mas é preciso, para completar uma formação que o torne capaz de letrar seus alunos, que conheça o processo de letramento, que reconheça as características e peculiaridades dos gêneros de escrita próprios de sua área de conhecimento. Penso que os cursos de formação de professores, em qualquer área de conhecimento, deveriam centrar seus esforços na formação de bons leitores e bons produtores de texto naquela área, e na formação de indivíduos capazes de formar bons leitores e bons produtores de textos naquela área.
(Jornal do Brasil - 26/11/2000)
Passamos então as atividades proposta da oficina, onde elaboramos diversas atividades com seqüências didáticas referentes ao texto Cidadezinha Qualquer.Iniciamos então o segundo momento exposição dos relatos Lição de Casa e o Avançando na Prática, recolhi os registros e abri o espaço para os relatos. Foi o momento mais importante, porque os professores relataram o processo de seleção do Avaçando na Prática, respeitando algumas particularidades de cada sala e tomando o cuidado de amarrar com as atividades realizadas anteriormente de modo a garantir a sequência didática e a linearidade necessária para garantir que o aluno avance no seu aprendizado. Como professora formadora, também desenvolvi as atividades e ao trabalhar a Seção 1 sobre letramento, o Avançando na Prática da página 31, senti-me extremamente motivada e com entusiasmo diante do desafio de colher informações sobre o ambiente letrado (da casa, escola, ruas, igrejas). Foi um trabalho maravilhoso. Os alunos fotografaram , muros, colheram textos que circulam no comércio local, confeccionaram cartazes e relataram sobre as diferentes funções da leitura e da escrita. Realizar essa tarefa e o fizeram com entusiasmo, identificaram os diversos objetivos, confeccionaram um painel visualizando as mais variadas situações de leitura. Também desenvolvi o avançando na prática com o texto Cidadezinha Qualquer com as 5ª séries. Trabalhei uma sequência de atividades envolvendo leitura, interpretação e o estudo gramatical sobre os substantivos.

As professoras Leomara e Ivânia da EEB Catharina Seger do Cerro Azul –Palma Sola, realizaram o avançando na prática sobre as festas juninas. Divulgaram no jornal local os textos que os alunos produziram. Todos os cursistas apresentaram suas atividades concluídas e que estão sendo executadas.

Esse momento de socialização foi riquíssimo, todos acharam importante essa troca de experiências. Finalizamos nossa oficina com uma mensagem para que todos voltassem as suas escolas mais empolgados a continuar envolvendo-se cada vez mais no GESTAR II.

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